7 de fevereiro de 2007

7. Frente a Frente

O Ressio (OR) inaugura hoje a rubrica «Frente a Frente», subordinada desta vez ao referendo sobre o aborto que se realiza no próximo dia 11 de Fevereiro. Convidámos duas personalidades que são conhecidas pelas suas posições sobre o assunto. A primeira, simpatizante do Não, esteve à frente dos destinos de Portugal durante 15 anos, tendo sido Chefe de Estado titular durante 39. O seu nome é Maria Francisca Isabel Josefa Antónia Gertrudes Rita Joana de Bragança, mais conhecida como Dona Maria I, a Piedosa (DMI). O segundo convidado foi primeiro-ministro durante um dos períodos mais difíceis do país, em particular da cidade de Lisboa. O seu nome é Sebastião José de Carvalho e Melo, mais conhecido como Marquês de Pombal (MDP) e é adepto no Sim.
OR - Bem-vindos a O Ressio. Peço que cada um dos intervenientes apresente brevemente a sua posição sobre o referendo sobre o aborto. Pode começar a Dona Maria I.
DMI - Muito boa tarde. Em primeiro lugar quero felicitar O Ressio por esta iniciativa. Penso que é um assunto muito importante e fico feliz por também poder participar na votação de domingo. Estou inscrita na Junta de Freguesia da Ajuda e tenciono ir votar com o meu marido logo pela manhã. E tenciono votar Não porque, veja bem, uma mulher que engravida é porque andou enrolada com um camareiro ou moço de cavalariça. Se andou enrolada é para ter a criança. E depois logo se vê. Ou vai desterrada para o Pará ou manda-se a criança para as galés. Agora andar a pagar abortos nem pensar.
MDP - Ah ah ah. Com todo o respeito, Sua Majestade é louca. Aliás, depois do que ouvi aqui penso que não é preciso dizer mais nada sobre isso. Nem entendo a ideia de convidarem uma pessoa que perdeu o juízo em 1792 para discutir um tema destes. Eu também vou votar, mas voto Sim. Eu penso que a mulher tem direito de decidir o que faz com o seu corpo. Não vou ser eu a mandar esquartejar em Belém uma abortadeira ou uma mulher que faz isso. Isso é lá com elas...
DMI - E com a criança, que vai cair numa qualquer latrina pública. São uns assassinos. Um embrião é uma vida. Um ser humano. Eu tive sete filhos. Vi morrer seis. Sei o que é ...
MDP - Não vamos começar com essas choradeiras do costume. Isso é conversa para os seus amiguinhos padres. A verdade é que o aborto é uma decisão médica privada. É algo que fica entre a mulher e o seu médico. O Estado não tem que andar a proibir ou a permitir...
DMI - Não me admira que este Senhor pense assim. Afinal a vida significa pouco para ele. As pessoas que mandou matar. Minhas amigas. Conhecia muito bem. Nunca me saiu da cabeça o que aconteceu à ...
MDP - Tretas. Agora que não tem argumentos põe-se a falar de política. A mim não me dá lições de democracia. Eu estive em Belgrado! Eu fui lá falar com o ... com o ... Enfim, eu fui lá falar. Eu sei o que é a vida. E a vida humana não é um embrião com dez semanas. Tenha paciência, Dona Maria, mas é melhor arranjar uma outra maneira de discutir.
DMI - Ah, pois. Para si não é vida nem com dez semanas, nem com um ano, nem com trinta. É sempre carne para triturar. Esta foi boa... A mim não me apanha ele. Eu não sou carne para triturar. Ah, pois.
MDP - Ah, pois. Essa escapou-se-me bem. Agora também já não tenho saúde. Enfim...
OR - Ah, pois. Assim, terminamos o nosso «Frente a Frente». Agradeço aos nossos dois convidados, Dona Maria, Dom Sebastião José. Boa tarde.

2 comentários:

Anónimo disse...

Governo deve tomar medidas em vez de pedir ao povo a solução

Não ! - Não à legalização do aborto através da falsa bandeira (engodo) da despenalização !

A despenalização do aborto é outra forma enganadora de combater o aborto. O número de interrupções de gravidez, no mínimo, triplicará (uma vez que passa a ser legal) e o aborto clandestino continuará - porque a partir das 10 semanas continua a ser crime e porque muitas grávidas não se vão servir de uma unidade hospitalar para abortar, para não serem reconhecidas publicamente.
O governo com o referendo o que pretende é lavar um pouco as mãos e transferir para o povo a escolha de uma solução que não passa, em qualquer uma das duas opções, de efeito transitório e ineficaz.
Penso que o problema ficaria resolvido, quase a 90 %, se o governo, em vez de gastar milhões no SNS, adoptassem medidas de fundo, como estas:

1 – Eliminação da penalização em vigor (sem adopção do aborto livre) e, em substituição, introdução de medidas de dissuasão ao aborto e de incentivo à natalidade – apoio hospitalar (aconselhamentos e acompanhamento da gravidez) e incentivos financeiros. (Exemplo: 50 € - 60 € - 70€ - 80€ - 90€ - 100€ - 110€ - 120€ -130€, a receber no fim de cada um dos 9 meses de gravidez). O valor total a receber (810€) seria mais ou menos equivalente ao que o SNS prevê gastar para a execução de cada aborto. (*)

2 – Introdução de apoios a Instituições de Apoio à Grávida. Incentivos à criação de novas instituições.

3 – Introdução/incremento de políticas estruturadas de planeamento familiar e educação sexual.

4 – Aceleração do "Processo de Adopção".


(*) Se alguma mulher depois de receber estes incentivos, recorresse ao aborto clandestino, teria que devolver as importâncias entretanto recebidas (desincentivo ao aborto). [Não sei se seria conveniente estabelecer uma coima para a atitude unilateralmente tomada, quebrando o relacionamento amistoso (de confiança e de ajuda) com a unidade de saúde].

Estou para ver se os políticos vão introduzir, a curto prazo, algumas deste tipo de medidas. É que o povo, mais do que nunca, vai estar atento à evolução desta problemática.

Unknown disse...

Caro anónimo. Obrigado pelo seu interessante comentário. A proposta de pagamento por gravidez teria, no entanto, um impacto de pelo menos 88 milhões de euros (109457 nascimentos em 2005 x 810 euros) ou 20 euros por contribuinte. Pergunto o porquê destes valores. E se uma mulher abortasse às 10 semanas receberia 110 euros?

Mas o mais importante é saber o que o Antero de Quental e o Alexandre Herculano pensariam de tudo isto.