17 de abril de 2007

76. Os dias

Devidamente licenciado, dirigiu-se ao automóvel estacionado na avenida. O fecho centralizado abriu com um piscar de luzes. Sentou-se no lado do passageiro e pensou. «Quanto tempo vai demorar a viagem até casa?» Saiu do carro e o fecho centralizado accionou de novo o piscar de luzes.
O leve calor do fim de tarde na Primavera sempre o consolou. Dá vontade de andar por aí, por ruas que nunca percorreu. Por bairros de vidas desconhecidas, quase misteriosas. As Senhoras Marias e os Senhores Horácios conversam à porta das mercearias. São sobreviventes dos antigos bairros. Vão ser substituídos por imigrantes ou por jovens idealistas. Habitar na cidade é um caso sério.
As subidas da cidade antiga parecem conduzir a algum lugar maravilhoso. Custa tanto a chegar... Lá em cima não é maravilhoso. É bonito, simpático, pitoresco. É histórico. Quase se ouvem as armaduras a tilintar...
E no entanto, um Renault 5 bloqueia a saída de uma garagem. A buzina ecoa pela colina. É um aviso: desce a encosta. Escadinhas e calçadas. Calçadas e escadinhas. E a avenida. O fecho centralizado. O volante e a embraiagem. O semáforo e o túnel. A via rápida e a praceta. O elevador e a aspiração central. A SIC e o despertador.

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