5 de abril de 2007

64. Carnaval

A despropósito:
«A música de Carnaval talvez seja parte dessa sessão nostalgia que a gente de repente tá sentindo. Ou tá assistindo. Talvez seja a saudade do tempo que a gente era mais inteiro, sei lá, que era mais despreocupado. O tempo em que a gente ainda achava o Carnaval uma coisa maravilhosa. Porque eu não acho mais, entende? Quer dizer, ficar suando ali, pulando por nada, não acho muito engraçado, não. Eu admiro muito as pessoas que ainda conseguem se divertir no Carnaval. Mas eu perdi a paciência que eu tinha. Tentei assistir a um desfile de escola de samba mas o desconforto era tamanho que eu realmente nesse dia passei a amar televisão, entende?
Agora uma coisa que eu acho muito bonita no Carnaval é que todas as pessoas cantam junto, entende? E ficam irmanadas assim numa corrente muito positiva de alegria e tudo. Em geral elas são muito felizes, então eu admiro o Carnaval por causa disso.
E tem umas músicas de Carnaval que realmente falam umas coisas bonitas. Umas coisas que têm a ver. Sabe, em geral são coisas muito meigas. E na época do Carnaval elas se perdem, entende? Fica aquele tumulto, aquela pulação, as pessoas suando muito, muito uísque, muito confeti, serpentina, fantasia, aqueles troço. E a gente não percebe, mas tem sempre uma coisa muito carinhosa, muito quente nas letras de Carnaval. E muito ingénuo tudo, sabe? Tudo muito puro, muito bom. Então eu gosto de cantar músicas de Carnaval por causa disso. Quer dizer, eu e várias outras pessoas porque tá todo o mundo cantando músicas de Carnaval pra burro.»

Elis Regina

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