«Preparava-me há pouco para entrar no sono pela emoliente alameda dos versos de Ben Ammar de Silves quando a brusquidão de um telefonema golpeou a enlanguescente evocação da amada posta em gazela a olhar com narcisos. É a voz convulsa de um amigo. Entre afogueadas reticências anuncia-me um estouro de acontecimentos nos quais põe o sublinhado categórico de uma revolução: tanques no Terreiro do Paço; colunas militares em marcha sobre Lisboa; movimentos de tropas em vários pontos do país; a torre de controlo e a pista do aeroporto tomadas por destacamentos da Escola Prática de Infantaria de Mafra; etc... etc...
- Se não acreditas liga para o Rádio Clube Português. Está ocupado por "comandos".
Abanada pelo rigor deste dado, ligo o transistor e abro o volume de som. A voz do locutor soa numa campânula de mistério:
"Aqui Posto de Comando das Forças Armadas."»
Natália Correia, Não Percas a Rosa, 25 de abril de 1974.
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