Rui Tavares, Público de 28.I.2008:
«A anexação da Papua Ocidental foi levada na sua presidência até morrer um sexto da população total e praticamente ser dizimada a população selvagem.»
É engraçado ver o politicamente correcto de esquerda utilizar o vocabulário da extrema direita do século XIX. O que aconteceu ao «nativo», ao «indígena», ao «autóctone», ao «aborígene»? Ou mesmo ao «pagão» ou «bárbaro». «Selvagem» pelo menos é o mesmo que «silvestre» ou «natural».
1 de fevereiro de 2008
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3 comentários:
"nativo", "indígena" ou "autóctone" no contexto quereriam dizer o mesmo, ou seja, a população originária da Papua. no entanto, a população particularmente dizimada foi a que vivia nas selvas da ilha: "selvagem", tal como "aborígene", é adequado neste sentido. não é questão de "politicamente correcto" ou "politicamente incorrecto", mas de "correcto" simplesmente.
Caro Rui Tavares,
compreendo, mas:
Selvagem:
* Que vive livremente na natureza; que não habita junto do homem; diferente de domesticado, doméstico.
* Que cresce naturalmente sem a intervenção do homem. Bravio, silvestre. Diferente de cultivado.
* Que não foi ainda transformado pela presença ou intervenção do homem. Despovoado, inabitado, primitivo. Diferente de civilizado, povoado, habitado.
* Que não se adapta à vida em sociedade; que prefere estar sozinho. Insociável, solitário. Diferente de sociável.
* Que tem um comportamento grosseiro, rude, brutal; que não foi modelado pelo contacto com a civilização.
* Que não obedece a normas; que não está sujeito a controlo. Irregular. Diferente de autorizado, legal, lícito.
* Habitante da selva, que não foi influenciado pela civilização .
* Pessoa que é rude, que não é civilizada.
* Pessoa que tem um comportamento grosseiro, brutal.
Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, Academia das Ciências de Lisboa.
Encontrei também esta referência que é aplicável aos índios do Brasil (os «americanos», segundo o texto). Não sei se é ciência mas pareceu-me interessante:
«No Brasil, com os anos, os designativos “brasil” e “gentio” caíram em desuso, ultrapassados pelo conceito “índio”, com o sentido de homem pré-moderno, atrasado, ingênuo e preguiçoso. Menos comumente, “selvagem” e “selvícola” foram também utilizados para circunscrever o americano.
Nas últimas décadas, devido a sua conotação explicitamente pejorativa, o termo “selvagem” caiu em desuso nas ciências sociais como designativo do homem americano, permanecendo, ao contrário, o uso das categorias “selvícola” e, sobretudo, “índio”.
“Selvícola” e “selvagem” são termos tardios, gerados pelos habitantes da “urbs” – civilizado – para designar os “habitantes da selva” – não civilizados. Apesar de possuir diversa origem, o conceito “índio” absorveu os conteúdos de “selvícola” e “selvagem”, já que descreve, sobretudo, o homem vivendo na “floresta” ou na “selva”.»
http://www.espacoacademico.com.br/022/22cmaestri.htm
isso mesmo:
independentemente dos seus sentidos correlatos de "primitivo" ou "embrutecido" ou "incivilizado", selvagem tem também um sentido próprio, e eu diria mesmo literal, de "habitante da selva". é esse sentido que eu uso, porque me parece mais correcto do que os outros, e para distinguir dos "nativos" da papua, que podem não ser da selva.
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