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12 de junho de 2011

26 de fevereiro de 2008

244. Búfalo

«E ali estava agora sentada, quieta no casaco marrom. O banco ainda parado, a maquinaria da montanha-russa ainda parada. Separada de todos no seu banco parecia estar sentada numa igreja. Os olhos baixos viam o chão entre os trilhos. O chão onde simplesmente por amor - amor, amor, não o amor! - onde por puro amor nasciam entre os trilhos ervas de um verde tão leve tão tonto que a fez desviar os olhos em suplício de tentação. A brisa arrepiou-lhe os cabelos da nuca, ela estremeceu recusando, em tentação recusando, sempre tão mais fácil matar.»

Clarice Lispector, Laços de Família, 1960.

4 de fevereiro de 2008

224. Cebola

«Aliás, a sequência cronológica da minha história aperta-me como um espartilho. Ah, se eu pudesse remar agora para trás e aterrar numa das praias do Báltico, onde em criança moldava castelos com areia molhada... ah, seu eu me pudesse sentar uma vez mais debaixo da janela do sótão e pudesse ler, perdido de mim, como nunca mais depois disso... ou voltar a estar acocorado debaixo de uma lona de tenda com o meu camarada Joseph e lançar dados pelo futuro, naquele tempo, em que parecia estar ainda fresco como o orvalho e como que acabado de nascer...»

Descascando a Cebola, Günter Grass, 2006

9 de setembro de 2007

153. O Tempo Não Pára

O Tempo Não Pára

Disparo contra o sol
Sou forte, sou por acaso
Minha metralhadora cheia de mágoas
Eu sou o cara
Cansado de correr
Na direção contrária
Sem pódio de chegada ou beijo de namorada
Eu sou mais um cara

Mas se você achar
Que eu tô derrotado
Saiba que ainda estão rolando os dados
Porque o tempo, o tempo não pára

Dias sim, dias não
Eu vou sobrevivendo sem um arranhão
Da caridade de quem me detesta

A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas idéias não correspondem aos fatos
O tempo não pára

Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não pára
Não pára, não, não pára

Eu não tenho data pra comemorar
Às vezes os meus dias são de par em par
Procurando agulha no palheiro

Nas noites de frio é melhor nem nascer
Nas de calor, se escolhe: é matar ou morrer
E assim nos tornamos brasileiros
Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro
Transformam o país inteiro num puteiro
Pois assim se ganha mais dinheiro

A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas idéias não correspondem aos fatos
O tempo não pára

Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não pára
Não pára, não, não pára


Cazuza e Arnaldo Brandão