No tempo das patuscadas,
Das guitarras e touradas,
Das hortas, do carrascão,
Eram as iscas o prato
De mais consumo e barato
Na vida dum cidadão.
E ninguém se envergonhava,
Toda a gente que passava
Entrava nessas vielas.
A gente sentia-se bem,
Sendo simples era um vintém,
Trinta réis se eram com elas.
Se ao longe vinha um parceiro,
E o cheirinho lhes sentia,
Até mesmo apetecia
Comê-las só pelo cheiro
Que à sua banda foi dar.
O povo então era vê-lo:
Travessa do Cotovelo
E Rua do Arsenal.
Hoje tudo isso mudou,
A taberninha acabou,
Mas apareceram os bifes.
Os cocheiros são choferes,
Vigaristas, souteneres,
E os casqueiros, papo-secos.
Se os meninos odaliscas,
Comessem um prato d'iscas,
Daquelas bem temperadas,
Morriam de indigestão,
Não bebendo um garrafão
D'água das Pedras Salgadas.
José de Oliveira Cosme e Jaime Mendes.
Via Zero.
14 de abril de 2009
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